Quando a alegria some: o que é anedonia e por que ela preocupa tanto quanto a tristeza

A sensação de que os dias parecem iguais, de que atividades antes prazerosas perdem seu encanto e de que o “gosto pela vida” parece fora de alcance pode sinalizar algo mais grave: anedonia. Mesmo que o termo seja pouco conhecido no cotidiano, ele define um sintoma central de diversos quadros psiquiátricos — sobretudo a depressão — e vem recebendo atenção crescente da medicina.

Anedonia caracteriza-se pela incapacidade de sentir prazer ou satisfação em atividades que antes eram fonte de alegria e envolvimento emocional. Não se trata apenas de tristeza: enquanto o humor deprimido pode vir e ir, quem vive a anedonia experimenta um vazio persistente, uma desconexão em relação ao que costumava lhe dar energia. Esse estado prejudica não só o lazer, mas também as relações, o trabalho e a própria motivação para mudança.

A ciência aponta que a anedonia está associada a alterações em circuitos cerebrais de recompensa, com destaque à dopamina e regiões como o estriado e o córtex pré-frontal. Essas disfunções tentam explicar por que alguém pode saber que “isso me fazia bem” e mesmo assim não conseguir ou querer mais. A compreensão de que o corpo e a mente funcionam em conjunto — e que o prazer não é automático — ajuda a desmistificar o sintoma.

No plano prático, reconhecer a anedonia é o primeiro passo para buscar ajuda médica e terapêutica. O tratamento costuma envolver terapia cognitivo-comportamental, suporte psicossocial e, em alguns casos, medicações específicas. Além disso, pequenas intervenções de estilo de vida — como atividades estruturadas, exposição à luz natural e socialização intencional — podem ajudar a retomar conexão com a vida.

Ao trazer à tona a anedonia, a sociedade tem a oportunidade de perceber que saúde mental não se resume a depressão ou ansiedade, mas inclui a capacidade de sentir — e que, quando isso falha, o prejuízo pode ser silencioso, profundo e exigente de atenção.