Nos últimos anos, a dinâmica do mercado de trabalho tem sofrido mudanças significativas, impulsionadas por avanços tecnológicos, transformações culturais e novas prioridades entre profissionais mais jovens.
Uma dessas mudanças é a crescente popularidade do polywork – a prática de manter múltiplos empregos ou projetos simultaneamente, tendência que tem moldado uma nova relação com o trabalho, especialmente entre a geração Z.
Essa abordagem multifacetada permite que os profissionais explorem diferentes interesses, ampliem suas habilidades e diversifiquem suas fontes de renda, criando oportunidades inéditas de crescimento e autorealização. No entanto, essa tendência também levanta desafios importantes, como esgotamento, conflitos de interesses e a busca por equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
O que é o polywork?
O termo polywork refere-se a um modelo de trabalho em que um indivíduo desempenha múltiplas funções profissionais ao mesmo tempo. Essa prática pode incluir empregos formais, freelances, consultorias e até projetos pessoais, dependendo das preferências e habilidades de cada pessoa.
Essa forma de trabalhar reflete as mudanças nas expectativas e necessidades das novas gerações. Para muitos jovens, especialmente os nascidos entre 1997 e 2012 – classificados como geração Z –, a ideia de dedicar-se a um único emprego para toda a vida soa antiquada. Em vez disso, buscam uma abordagem mais flexível e personalizada para suas carreiras, valorizando a liberdade, o propósito e a diversidade de experiências.
Por que o polywork está em alta?
O crescimento do polywork está diretamente ligado às transformações culturais e econômicas das últimas décadas. A seguir, destacam-se os principais fatores que impulsionam essa tendência:
- Avanços tecnológicos: Ferramentas digitais, plataformas de trabalho remoto e aplicativos de comunicação facilitam a realização de múltiplos projetos em qualquer lugar. Isso cria um ambiente mais propício para a multitarefa e o trabalho em diferentes áreas simultaneamente.
- Busca por segurança financeira: Em um cenário econômico instável, diversificar as fontes de renda é uma estratégia para mitigar riscos e criar uma rede de segurança financeira mais robusta.
- Realização pessoal e flexibilidade: Para a geração Z, a satisfação no trabalho é tão importante quanto o salário. O polywork permite alinhar interesses pessoais com a vida profissional, proporcionando mais equilíbrio e propósito.
- Mudanças no mercado de trabalho: A economia gig e o crescimento da cultura empreendedora criaram novas oportunidades para os profissionais se reinventarem e explorarem diferentes caminhos de carreira.
Benefícios do polywork
O polywork oferece uma série de vantagens para quem adota esse modelo, principalmente para aqueles que sabem gerenciar seu tempo e prioridades.
- Desenvolvimento de habilidades: Ao atuar em diferentes áreas ou projetos, o profissional adquire novas competências e amplia sua visão de mercado, o que pode aumentar sua empregabilidade a longo prazo.
- Exploração de interesses diversos: Essa abordagem permite que as pessoas combinem paixões pessoais e objetivos profissionais, o que pode levar a maior realização pessoal.
- Flexibilidade: Diferente de empregos tradicionais, o polywork permite criar horários mais adaptáveis às necessidades individuais.
Apesar de suas vantagens, o polywork não é isento de dificuldades. A seguir, os principais desafios enfrentados por quem opta por essa prática:
- Esgotamento profissional: Gerenciar múltiplos projetos pode levar ao burnout, especialmente se o profissional não estabelecer limites claros e cuidar da saúde mental e física.
- Conflitos de interesses: Trabalhar para empresas concorrentes ou projetos que colidam eticamente pode criar problemas para o profissional e seus empregadores.
- Falta de benefícios trabalhistas: Muitos trabalhos realizados sob o regime de polywork não incluem benefícios tradicionais, como seguro de saúde ou aposentadoria, exigindo planejamento financeiro cuidadoso.
- Gestão de tempo e produtividade: Dividir a atenção entre várias responsabilidades pode comprometer a qualidade do trabalho se não houver uma gestão eficiente.
A visão da CLT sobre o polywork
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite que empregados atuem em múltiplas funções, desde que isso não interfira no desempenho de suas responsabilidades principais. Algumas questões importantes relacionadas ao polywork e à CLT incluem:
- Desempenho: Se o profissional não cumprir suas obrigações devido a outros compromissos, ele pode ser demitido por justa causa.
- Conflito de interesses: Atuar em empresas concorrentes ou usar informações confidenciais para benefício próprio pode configurar violação do contrato de trabalho.
- Limites de jornada: A CLT regula a carga horária semanal, o que exige cuidado para evitar violações legais.
Por outro lado, trabalhos autônomos ou freelances são regidos por legislações específicas e não seguem as mesmas regras da CLT, oferecendo maior liberdade, mas também mais responsabilidades ao trabalhador.
Impactos do polywork para as empresas
O polywork pode ser tanto um aliado quanto um desafio para as empresas.
Vantagens
- Inovação e criatividade: profissionais que atuam em diversas áreas trazem ideias e perspectivas diferentes, enriquecendo os processos organizacionais.
- Maior satisfação do colaborador: permitir que os funcionários explorem outros interesses pode aumentar o engajamento e reduzir a rotatividade.
Desafios
- Divisão de atenção: profissionais com múltiplos empregos podem ter dificuldades em manter o mesmo nível de produtividade em todas as suas atividades.
- Conflitos éticos: há risco de vazamento de informações ou deslealdade, especialmente em setores competitivos.
O polywork e a geração Z
A geração Z tem desempenhado um papel fundamental na disseminação do polywork. Jovens dessa faixa etária, que começaram a se estabelecer no mercado de trabalho nos últimos anos, têm prioridades diferentes das gerações anteriores. Eles valorizam empresas que promovam diversidade, propósito e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Contudo, essa busca por propósito e flexibilidade também traz desafios. Como observam especialistas, muitos jovens enfrentam dificuldades para conciliar seus ideais com as demandas práticas do mercado, o que pode levar a ciclos de frustração e insatisfação.
Dados do IBGE mostram que, no terceiro trimestre de 2023, quase 550 mil brasileiros de 14 a 29 anos tinham dois empregos, enquanto outros 30 mil acumulavam três ou mais. Esses números indicam um movimento significativo, mas também reforçam a necessidade de reflexão sobre os impactos do polywork na saúde mental e no equilíbrio de vida.
Dessa forma, o polywork representa uma transformação importante no mundo do trabalho, trazendo novas possibilidades para profissionais e empresas. No entanto, é essencial abordar essa prática com planejamento, consciência e cuidado para evitar armadilhas como o esgotamento ou conflitos de interesses.
Para a geração Z, o polywork é mais do que uma tendência – é um reflexo de sua visão de mundo e de suas prioridades. Enquanto essa abordagem continua a ganhar força, tanto trabalhadores quanto empregadores precisam encontrar formas de maximizar seus benefícios e mitigar seus riscos, criando um futuro do trabalho mais inclusivo, flexível e sustentável.