Risco à saúde: remédios para emagrecer são vendidos ilegalmente

Nos últimos anos, o mercado de medicamentos para emagrecer no Brasil tem experimentado um crescimento significativo. Recentemente, a introdução de novos fármacos, como a tirzepatida, tem atraído a atenção de consumidores e profissionais de saúde. Esses medicamentos, geralmente administrados por meio de canetas injetáveis, prometem resultados eficazes na perda de peso, mas também levantam questões sobre regulamentação e segurança.

Antes mesmo de sua chegada oficial às farmácias, versões manipuladas desses medicamentos já estavam disponíveis no mercado brasileiro. Farmácias de manipulação, sites e clínicas médicas começaram a oferecer esses produtos, o que gerou uma série de debates sobre a legalidade e a segurança dessas práticas. A questão central gira em torno das patentes e da falta de regulamentação rigorosa para a manipulação desses compostos.

Quais são os desafios legais e regulatórios?

A semaglutida e a tirzepatida são princípios ativos que ainda estão sob patentes, o que significa que nenhum laboratório pode legalmente fabricar ou vender versões genéricas desses medicamentos. A Novo Nordisk, responsável pela semaglutida, afirma que a manipulação sem autorização constitui uma violação de patente e uma infração sanitária. Da mesma forma, a Lilly, que detém a patente da tirzepatida, alerta para a comercialização de versões manipuladas que não foram avaliadas quanto à segurança e eficácia.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclarece que não fiscaliza patentes, mas permite a importação e manipulação de princípios ativos aprovados no Brasil. No entanto, essa permissão é condicionada a que as farmácias e importadoras sejam devidamente autorizadas e que realizem a qualificação dos fornecedores. A falta de fiscalização rigorosa levanta preocupações sobre a qualidade e a segurança dos medicamentos manipulados.

Como a manipulação em massa afeta a segurança dos medicamentos?

A manipulação de medicamentos deveria ocorrer apenas em casos específicos, quando há uma necessidade individual que não pode ser atendida por produtos disponíveis no mercado. No entanto, o que se observa no Brasil é a produção em massa de medicamentos manipulados, muitas vezes sem os testes necessários para garantir sua eficácia e segurança. Isso pode resultar em produtos que não apenas são ineficazes, mas também potencialmente perigosos.

O presidente-executivo da Interfarma, Renato Porto, destaca que a falta de testes em produtos manipulados pode levar a medicamentos com concentrações inadequadas ou até mesmo com efeitos adversos inesperados. Essa situação é agravada pela venda desses produtos em plataformas não regulamentadas, como redes sociais, onde a origem e a qualidade dos medicamentos são ainda mais difíceis de verificar.

Quais são as implicações para os profissionais de saúde e pacientes?

Para os profissionais de saúde, a proliferação de medicamentos manipulados sem garantia de qualidade representa um desafio significativo. Médicos frequentemente se deparam com pacientes que relatam efeitos colaterais de medicamentos cujas composições são desconhecidas. Isso dificulta o diagnóstico e o tratamento adequados, uma vez que não há como confirmar a causa dos sintomas relatados.

A Associação Brasileira de Estudos da Obesidade (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) alertam para os riscos associados ao uso indiscriminado desses medicamentos. A Anfarmag, associação que representa as farmácias de manipulação, reforça a necessidade de prescrição médica e individualização dos tratamentos, além de destacar a importância da fiscalização para evitar práticas inadequadas.

O que pode ser feito para melhorar a fiscalização e segurança?

Para garantir a segurança dos medicamentos manipulados, é essencial que haja uma fiscalização mais rigorosa por parte dos órgãos competentes. Isso inclui a verificação da qualidade dos insumos importados e a realização de testes nos produtos finais. Além disso, é crucial que as farmácias de manipulação sigam as diretrizes estabelecidas para a produção e venda desses medicamentos, garantindo que sejam usados apenas em casos de necessidade específica e com a devida prescrição médica.

Em última análise, a colaboração entre fabricantes, reguladores e profissionais de saúde é fundamental para assegurar que os medicamentos para emagrecer disponíveis no mercado brasileiro sejam seguros e eficazes. Somente com um esforço conjunto será possível proteger a saúde dos consumidores e manter a integridade do mercado farmacêutico.

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